Minyanos
Homero, em suas descrições das populações nativas do Hellas, durante a Guerra de Tróia, refere-se à uma população, nativa da Aetolia e Boetia, que não se relacionava aos Pelasgos - os ancestrais dos Aqueus, o coletivo de povos Proto-Gregos - chamando-os de Minyanos , dada a sua correlação mitológica ao rei Minyas, um Semi-Deus responsável por fundar a cidade de Orchomenus, na Boetia. Homero trata de distinguir a etnicidade dos Minyanos, descendentes de Myneas - associados aos Aeolios e Aetolios da Grécia Clássica - e os ancestrais dos demais gregos, chamados de Pelasgos - ancestrais dos Ionicos e demais grupos. Segundo Homero, os Myneanos se relacionavam aos habitantes da Grécia antes da Invasão dos Pelasgos.
Apesar de mitológica, a narrativa atribuída à Homero possui fundamentação na pré História Grega. Costuma-se associar, erroneamente, a ascensão da cultura Mycenica com o advento da primeira Civilização Indo Europeia no Egeu. A conexão entre os Gregos da Idade do Bronze Inicial e os Mycenicos ainda é alvo de debate. Sabe-se, contudo, que profundas mudanças, relativas à cultura material, precederam o Helladico Tardio, associado ao florescimento da Civilização Mycenica, e que a presença da Genética Indo Europeia antecedia a Civilização de Agaemenon e Menelau.
Para a compreensão da historicidade dos Minyos, o coletivo de povos associados aos antecessores da Civilização de Mycenas, devemos salientar o obscurantismo que cerca a etnicidade dos Minyos. Para muitos pesquisadores, ao longo do século XX, os Minyos representavam os ancestrais diretos dos Mycenicos, em vista da provável rota de migração da Pelasgonia coincidir com a Boetia, Aetolia e Aeolia - já que esta se encontra ao Norte do Hellas. Salientam, ainda, a continuidade material entre o Helladico Médio e Helladico Tardio, sem evidências materiais que indiquem a destruição dos assentamentos associados aos Helladicos Iniciais e Médios, argumentando que a civilização Mycenica floresceu localmente, como produto da Civilização Helladica Média - ainda que entre o período Helládico Médio e Helládico Tardio exista uma ruptura dos assentamentos, que foram destruídos possivelmente por um incêndio. Todavia, a correlação das culturas materiais dos Primórdios Helladicos e as Civilização Anatólica Indo Europeia - uma correlação distinguível da Mycenica Tardia - bem como os sequenciamentos genéticos operados em índividuos dos dois períodos, reforçam a ideia de uma ruptura, não pela substituição completa mas pela miscigenação dos dois grupos - a quem podemos atribuir, com elevado grau de fiabilidade, uma distinta genética.
O Período Helladico Inicial
O Período Helladico Inicial, iniciado no ano de 3200 BCE ao ano de 2000 BCE, representa um período de profunda transformação cultural, em toda a extensão do Hellas, com a substituição dos elementos culturais Calcolíticos Gregos - ou do Final do Neolítico - já influenciados, em menor escala que os Arquipélagos, pela colonização de refugiados anatólicos - que participaram na introdução da metalúrgica para a região - pela cultura Paleo-Minyan ou pelo advento da cultura Minyeana, com extensiva proximidade às populações Indo Europeias da Anatólia Ocidental. Divide-se, por conveniência acadêmica, o Período Helladico Inicial em 3 estágios, cada qual associado ao advento de uma nova cultura.
O Período Helladico Inicial I - do ano de 3200 BCE ao ano de 2650 BCE - apresenta-se como o primeiro intervalo cronológico convencionado pela academia. Sua definição perpassa a continuidade das culturas materiais, associadas ao neolítico e calcolítico do Egeu, com a incrementação de inovações advindas dos contatos comerciais com a Anatólia Ocidental Pré Indo Europeia, somando-se ao surgimento de novos assentamentos, motivados mais modificação das práticas econômicas - agora mais sofisticadas - do que por novos contingentes populacionais - que não relacionem-se aos refugiados calcolitícos minoritários.
A Cultura de Eutresis, centrada na região da Euboea, desenvolveu-se como o produto da Civilização do Egeu Neolítico e Calcolitíco, somando-se às inovações da metalúrgica do bronze. Centrada na região da Euboea, no Attica e no Norte do Peloponeso, a Cultura de Eutresis não apresentara elementos de substituição dos povos autóctones do Hellas, com continuidade das práticas religiosas mediterrâneas neolíticas, da organização social, da conformação dos assentamentos - sem grandes modificações quantitativas de seus aspectos demográficos - sendo os principais centros Manika , Eutresis, Thebes e Tyrins.
O Período Helladico Inicial III - de 2650 BCE até o ano de 2200 BCE - representa a ascensão da Cultura de Korakou, herdeira direta da Cultura de Eutresis. Ainda que em continuidade etnocultural, a Cultura de Korakou definiu um marco de sofisticação e desenvolvimento de complexidade material e social notório, definindo, sem qualquer embargo, o início da Civilização do Egeu, concomitante ao desenvolvimento da Civilização Proto-Palaciana Minoica. A sofisticação da cerâmica, a complexidade da hierarquia social, a disseminação extravagante da metalúrgica do bronze, a sofisticação da arquitetura - com advento de construções monumentais - a concepção de muralhas e estruturas defensivas - que associadas às primeiras armas constituídas de bronze, indicam uma nascente belicosidade neste período - e inovações profundas nas práticas agrícolas - que permitiram a expansão da ocupação do território grego, bem como um crescimento demográfico substancial - a implementação de novos estilos de organização urbana e outras inovações, representaram uma evolução e sofisticação cultural jamais antes experienciados pela Civilização Auctotone, e simbolizam, entre outras coisas, a consequência direta das relações comerciais com as Civilizações da Anatolia Ocidental, bem como os refugiados Proto-Lycios que mesclaram-se à população local.
A continuidade das culturas materiais, em aspecto etnocultural, advoga para a manutenção das práticas religiosas e organização social - apesar das evidências do aumento de sua complexidade. Os Pré-Hellenicos de Korakou expandiram, substancialmente, os assentamentos urbanos pelo Hellas Central, Peloponeso, Thesalia e Cyclades - consequência ultima das inovações das práticas agrícolas, mediante a inovação da Roda com Aro, utilização de ferramentas de bronze etc.. - e são os precursores da Civilização do Egeu. Sua organização social matrelinear e matriarcal, suas práticas religiosas ctônicas, seus costumes e moralidade Kybeliana, certamente assemelhavam-se, em muito, aos primeiros estágios da Civilização Proto-Palaciana e aos tardios Lycios da Anatolia. Cumpriram fundamental papel na gênese do Povo Hellênico, edificando as primeiras cidades, explorando as rotas comerciais e fomentando a infraestrutura primordial, o seio maternal que viria a nutrir - não por intento próprio mas por imposição da espada - a Civilização dos Minyanos e dos tardios Aqueus.
Notório é, e cabe-nos destacar, que o advento de estruturas bélicas defensivas, tal como as muralhas colossais, e das armas de bronze, indicam-nos, sem valia, o caráter que assumira esta sociedade, não por motivações internas, por um ímpeto expansionista ou anseio centralizador de quaisquer cidade-estado, mas por consequência do período, de extensa expansão dos povos da Estepe Pontico Cáspia e do Horizonte Kura Araxes, pela invasão dos Indo Europeus, que viriam a tomar para si este farto seio materno, que se desenvolvera nas entranças do Mar Egeu.
A Cultura de Tyrins e a Invasão dos Minyanos
No final do período Helladico Inicial, os povos Indo-Anatolicos, de origem Indo-Europeia, invadem a região costeira e insular do Egeu, introduzindo uma nova cultura, com a popularização do bronze, diversificação dos assentamentos, remodelação dos assentamentos urbanos, com a introdução de um novos modelos arquitetônicos como as casas do tipo Megara, associando-se ao advento de grandes monumentos, como a Casa dos Tiles, e o desenvolvimento de dois tipos de cerâmica, o tipo estampado de preto na cerâmica clara, com ornamentos retrolinear, encontrado, fundamentalmente, no Peloponeso, e o tipo Ayia Marina, de pintura clara em cerâmica escura, relacionado com as populações do Centro da Grécia. Tais mudanças perpassam o advento da Cultura de Tyrins, introduzida no Centro-Sul da Grécia e nas Ilhas Iônicas.
Target: Greece_Manika_Helladic_EBA.SG Distance: 2.6172% / 0.02617216 | |
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72.8% | Aegean_Neolithic |
14.2% | Indo_Anatolian |
10.4% | Pelasgians |
2.6% | Minoan |
Source: Aegean_Neolithic: Greece_N, Greece_Peloponnese_N; Indo_Anatolian: Turkey_Hittite_Old_Empire; Pelasgians: Macedonia_BA; Minoan: Greece_Minoan_Lassithi.
A cultura de Tyrins, relacionada ao advento da Civilização Minyana, desenvolveu-se através da migração de povos Indo-Anatolicos, de estirpe indo europeia, marcando o inicio do período Helladico Médio, de 2000-1600 BCE, concomitante a inovações aparentes no Arquipélago Iônico - Cultura Cicladica - e apresenta uma composição genética majoritariamente correlacionada aos povos Neolíticos Gregos, em especial do Neolítico do Peloponeso, seguido por uma contribuição minoritária Anatólica e alguma presença paleo-balcânica - Pelasgiana - e Minoica. A contribuição indo-anatólica minoritária reflete os padrões de conquista característicos do Povo da Estepe Indo-Europeia, com elites dominantes e menor influência quanto ao grosso populacional. A similaridade genética, com perfis modernos, ainda não encontra paralelos, dada a singularidade do perfil genético da população em questão - p > 0.05 - remetendo aos Sardos modernos pela elevada contribuição Neolítica Mediterrânea.
Heródoto e Heracles escreveram sobre a Civilização Minyana, consideravam-na uma ancestral dos povos da Boetia e Thessalia, na região Central da Grecia, associando-na com um mítico fundador, Minyas, e com a fundação de diversas cidades gregas, no Attica, Boetia, Thessalia e Ciclades. Diversas genealogias de heróis míticos, como os Argonautas, são relacionadas aos Minyanos.
A Cerâmica Minyana conserva padrões similares aos encontrados na Cultura de Tyrins, tornando-se mais abundante e homogênea em toda a Grécia, durante o período Helladico Médio. Nota-se, ainda, uma extensiva similaridade entre a Cerâmica Minyana e os artefatos encontrados em Troia e outras cidades Anatolicas - indo europeias - do Egeu Oriental. A Cerâmica Minyana é o material arqueológico mais prevalente entre os encontrados no Período Helladico Médio e a extensão de sua presença vai da Thessalia até o norte do Peloponeso, com alguns exemplares encontrados até mesmo no Sul da Italia, Creta e Troia.
Outras alterações notórias foram os tipos de sepultamento, com 4 tipos de covas sendo encontrados, uma cova simples, túmulo de tholos - caracterizado por ser mais parecido com uma câmara - ambos relacionados aos povos auctotones da Grécia Neolítica e Calcolítica, destinados para indivíduos de menor posição social, e dois modelos únicos, associados com os novos migrantes e com as elites conquistadoras, os tumulos de Cisto, em forma retangular, profundos e com montes de terra no topo, e as Sepulturas de Poço, similares aos Tumulos de Cisto, com maior profundidade e largura. Sabe-se, ainda, que homens eram enterrados voltados para o lado direito e mulheres para o lado esquerdo, e que os ritos de passagem incluíam à adição de pertences pessoais, tais como cerâmica, objetos de prata, bronze ou ouro.
Costumeiramente, os assentamentos urbanos da Civilização Minyana apresentavam disposições irregulares, além de elevados muros - com o já mencionado advento das muralhas - e casas colabadas entre si, em vista da organização social patriarcal, introduzida pelos migrantes indo-anatolicos, que concentrava-se ao entorno de largas famílias - clãs. As casas do tipo Megara, surgidas no final do Período Helladico Inicial, permaneceram, unindo-se a construções em formato de U, e a base de sua construção era a Argila. Nota-se uma maior distinção material entre os grupos de casas, com as famílias da elite social possuindo casas mais largas e sofisticadas, e uma modificação no aspecto religioso cerimonial, agora com um viés solar e estepico, em acordo com as alterações de organização social denotadas - tais como o patriarcado, patrelinearidade e dominação das elites guerreiras. Teoriza-se que o politeísmo presente nesta civilização tenha sido similar ao encontrado nos povos Luwianos, relativos a Wilusa - Troia - e que sua fusão com o panteão Pelasgio tenha dado origem ao politeísmo grego mycenico, acadiano , uma versão mais arcaica do encontrado na Grécia Clássica.
Target: Greece_Koufonisi_Cycladic_EBA.SG Distance: 1.6949% / 0.01694935 | |
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45.6% | Aegean_Neolithic |
45.6% | Indo_Anatolian |
6.4% | Pelasgians |
2.4% | Minoan |
Composição Genética da Civilização Cicladica, percebe-se uma maior similaridade com os perfis gregos modernos e uma maior contribuição Indo-Anatolica.